No Bairro do Aleixo

terça-feira, junho 28, 2005

Casimiro II.

Levantou-se da cadeira. Fixou um ponto no meio do rio. Não sei, não sabe ninguém porque canto o fado neste tom magoado de dor e de pranto... O sol ainda ia alto. A meio do verso fechou os olhos e os corações começaram a bater ao ritmo lento da canção. Embalados. Os barris de cerveja e os garrafões de vinho estavam cheios. E toda a gente se calou para ouvir a melhor voz das redondezas. ...foi deus que me pôs no peito um rosário de penas que vou desfiando e choro a cantar... Não pararam de chegar pessoas. Carros estacionados em segunda fila. Autocarros cheios. A Flor do Gás a descarregar pessoas continuamente. O Largo do Ouro ficou a abarrotar. Crianças esmagadas, mulheres grávidas em trabalho de parto, ressacas suspensas por alguns minutos. Se canto, não sei o que canto, misto de ventura saudade e ternura e talvez amor... A voz do Casimiro elevou-se do Largo do Ouro até ao céu, as torres do Aleixo tremeram, as marés atrasaram-se e esqueceu-se o S. João para na memória ficar ‘o dia em que o Casimiro cantou, finalmente, no bairro que o viu nascer.’ ...sinto o mesmo que quando se tem um desgosto e o pranto do rosto nos deixa melhor...

domingo, junho 26, 2005

Junta de freguesia.

«Não tenho vida para isto. Ocupa-me muito tempo e eu tenho outras coisas mais importantes para fazer na vida. Aceitei vir para aqui, mas não sabia muito bem naquilo que me estava a meter. Já viu bem os problemas desta freguesia? Tantos bairros sociais. E que perspectivas de carreira política tenho aqui? Não se passa de presidente de uma junta para deputado ou para ministro. Não. Eu tenho outras coisas para fazer. Isto pode ser bom para algumas pessoas, mas não para mim. Conhece outros presidentes de junta? São quase todos velhos e reformados. Sem mais nada para fazer, sem perspectivas profissionais noutras áreas. O ordenado é bom para a maior parte das pessoas, mas eu tenho outras ambições. A minha área é a banca, capitais de risco, investimentos. Como imagina, estar aqui preso a ouvir os problemas destas pessoas não me deixa tempo para outras coisas. Para ganhar dinheiro, para construir a minha vida fora daqui. Vou-lhe confessar uma coisa. Eu sou amigo pessoal do presidente da câmara e só por isso é que aceitei concorrer para aqui. Eu nunca tinha estado num bairro social antes. Nunca imaginei o que seria viver num. Mudei-me ali para baixo há pouco tempo. Para perto do Aleixo. De minha casa vejo as pessoas a chegar e a sair. De manhã é assustador. Nunca imaginei. Tenho tentado fazer alguma coisa por isto. Mas é difícil. Que autonomia é que um presidente da junta tem? Nenhuma. Isto depende tudo da câmara. Do orçamento. Da vontade de muita gente. Não. Não tenho vida para isto. Foi muito bom estar aqui. Até lhe digo que aprendi muitas coisas. Mas não aguento mais!»

segunda-feira, junho 20, 2005

CampinGaz.

Nos dias quentes deste verão as actividades do Bairro fazem-se ao ar livre, quase sempre ao fim da tarde quando a temperatura baixa e o vento começa a soprar.
No pedaço de terreno em frente à Torre Um reúne-se todos os dias um grupo de clientes habituais. Instalaram um grelhador, uma mesa e alguns bancos. Um trouxe um baralho de cartas e passam algumas horas a jogar, à espera que o Pirolito abra a loja, à espera que aconteça alguma coisa melhor.
Ocasionalmente aparece alguém com umas fêveras pedidas no talho lá em cima ou com alguns peixes que sobraram do negócio de uma peixeira. Cortam alguns ramos de uma árvore e fazem um braseiro agradável.
O Vinagre conseguiu roubar um CampinGaz a alguém, ‘lá em cima, perto de Bessa Leite’. É a novidade do dia. À noite serve para dar luz e sinalizar a presença da polícia, quando é caso disso. Quando está tudo calmo, serve de isqueiro colectivo para os membros do grupo. São pelo menos oito. Todos clientes habituais e com morada quase permanente em frente à primeira torre. Sentam-se no chão e estendem as colheres para a chama. A preparação da sopa tornou-se um ritual partilhado. Aquecem as colheres, puxam o êmbolo da seringa, procuram uma veia mais visível, injectam-se. Ficam a olhar as estrelas ou a lua e a pensar na noite de S. João. Fumam um cigarro quando há.
O Filipe tentou usar a chama do CampinGaz para fumar heroína da prata. Queimou as pontas do cabelo e dos dedos e ficou sem a prata. Também não dá jeito para cachimbos.
O Vinagre encarrega-se todos os dias da manutenção do aparelho. ‘Nunca ninguém se tinha lembrado disto. Agora é indispensável. A malta está junta e conversa mais uns com os outros, ‘tás a ver?’ Quando o gás acaba ele trata da substituição.
É provavelmente o primeiro gesto de solidariedade gratuita entre os clientes do Bairro. No verão quente de dois mil e cinco.

domingo, junho 19, 2005

Breve história da Comissão.

A Comissão de Moradores, Traficantes, Consumidores e Outros Negociantes do Bairro do Aleixo foi fundada há cerca de dez anos. Lutar pela melhoria das condições de vida no Bairro e servir como plataforma de comunicação com a cidade, foram desde logo os seus principais objectivos.
Dois anos depois entendeu-se que, para consolidar a qualidade de vida da maior parte da população, seria necessário organizar as actividades comerciais dispersas por todo o Bairro. Até então não havia nem ordem nem método nas actividades: as lojas fechavam durante grande parte do dia e os clientes não sabiam onde se dirigir nem o que procurar.
A Comissão coordenou e organizou todos os intervenientes. Estabeleceram-se regras, os principais agentes em campo dialogaram, organizaram-se espaços e clarificaram-se os territórios.
O negócio cresceu, a afluência de clientes aumentou. Criaram-se equipas de segurança, planos de promoção e estratégias de importação. Cedo se percebeu as vantagens da Comissão e o seu papel fundamental. Toda a gente saiu a ganhar.
A Comissão quis ir mais longe e, há precisamente seis anos, começou a editar um ambicioso catálogo de produtos. Um extenso livro com todas as substâncias que existem no Bairro para compra imediata ou sujeitas a encomenda. Este catálogo teve cinco edições. Recentemente, quando se descobriu que algumas das substâncias mais raras começaram a ser comercializadas noutros locais, foi cancelado.
A actividade editorial da Comissão foi-se diversificando. Ao longo destes dez anos foram encomendados trabalhos a especialistas sobre o Bairro do Aleixo e sobre as questões sociais com ele relacionadas, sobre o tráfico e a actividade económica local, sobre a educação dos jovens do Aleixo, sobre o estado do consumo em Portugal e na Europa. Enfim, um rol interminável de estudos que ajudaram a construir o Bairro tal como ele é hoje. A grande maioria destes trabalhos, já aqui mencionados, está editada em revistas e publicações da especialidade. Os restantes estão apenas disponíveis na biblioteca da Comissão.
O maior investimento da Comissão na área editorial até agora foi o famoso Manual de Procedimentos do Traficante Regular. Um compêndio bastante completo que é usado na formação dos jovens dos Bairro. Reúne tudo o que é necessário saber sobre a actividade, desde a descrição das substâncias e dos seus efeitos, até às análises de mercado, passando pelos mecanismos de transporte internacional, pelos métodos de transformação química e por reflexões sobre questões sociais, políticas e filosóficas paralelas ao tráfico.
Apesar de recente, este manual é a principal fonte de informação para as duas gerações de negociantes do Bairro.
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Falar da importância da Comissão é também falar da educação no Bairro do Aleixo. Desde o jardim-de-infância até à escola primária, a educação é feita localmente. Investiu-se na melhor qualidade de ensino para aqueles que no futuro vão governar o Bairro e, quem sabe, o país. Para os mais velhos existem actividades regulares de reciclagem onde a participação é sempre elevada e entusiástica.
Na data da sua fundação, a Comissão contou apenas com a vontade de dez pessoas, que lançaram as bases para o que viria a ser o mais importante trabalho desenvolvido para a população do Bairro.
Um ano depois e com cerca de uma centena de colaboradores, decidiu-se oficializar os estatutos da Comissão e fazer eleições para os corpos directivos. Hoje a Comissão tem várias centenas de membros. Basta ser residente no Bairro do Aleixo para se ter direito de participação na Comissão, mas o direito de voto só é atribuído ao fim de seis meses de participações regulares ou directamente, caso se trate de um negociante.
Os objectivos futuros passam, como já aqui se fez referência, pela modernização das infra-estruturas existentes, pelo aumento da produtividade, rentabilidade e qualidade dos negócios e pela saudável e eficaz mudança da geração responsável pelo governo do Bairro.
Todos os habitantes do Bairro do Aleixo estão empenhados em lutar por estes grandes objectivos traçados para o futuro e a Comissão não podia estar mais optimista.

quinta-feira, junho 16, 2005

As noites II.

Noites muito quentes e abafadas. Transpira-se muito. Há agitação no Bairro. A primeira torre não pára. Passos rápidos do primeiro ao sexto andar. Está vento, muito vento. Cruzam-se vultos, como fantasmas, nos patamares. Dois, três, quatro. Gestos nervosos, braços agitados. As janelas que cortam a torre de cima a baixo enchem-se de sombras. Terceiro, quarto, quinto andar. Silhuetas magras caminham em grupo. Ouvem-se gritos. Muito vento à noite significa mais calor para o dia seguinte. Vozes que chamam nomes. Insultos de uma para outra janela. Tiros. Sim, tiros. Três agora, mais dois depois. Do lado do rio e do mar vem uma brisa fresca. Mais gritos no meio da rua. Pessoas com medo. Uma motorizada a acelerar. Pessoas que fogem. Passos apressados no patamar do quarto andar. O café Caetano só fecha quando sai o último cliente ou quando a cerveja acaba. Portas a bater. ‘Vêm aí. Vêm Aí’. Pessoas escondidas. Um carro a travar. Mais tiros. Nunca se sabe de onde vêm, a quem se destinam. Transpira-se muito com o calor.

segunda-feira, junho 13, 2005

Alberto III.

‘Foi ali que ele morreu. O taxista. Cortaram-lhe a garganta a sangue frio. O problema são estes drogados. Só pensam naquilo e em roubar. Precisam de dinheiro e andam para aí a assustar toda a gente. O homem só tinha dez euros. Já viu isto? Era taxista desde oitenta e três e matam-no assim. Com família. Filhos. É uma tristeza. Deviam era matá-los a todos. Andam para aqui e só pensam em porcarias. Apanhou o táxi em Fernão Magalhães e vinha para aqui comprar droga. Para o Aleixo ou para um desses sítios. Já viu isto?’
O Alberto ouvia tudo. Ia de pé no autocarro, apertado contra o vidro. Cansado do calor e da vida.

domingo, junho 12, 2005

Irmãos II.

Fizeram uma aposta. Não consumir nada durante uma semana. Só álcool. Vinho de preferência. Selaram a combinação com um abraço discreto e pouco apertado.
Até terminar o prazo vão passar as tardes na Rua do Ouro a apanhar sol e a beber. A beber e a olhar para o rio. A pele vai ficar escura e seca. As barbas e os cabelos vão ficar queimados nas pontas, ligeiramente mais claros. Não vão falar com ninguém.
Sentam-se num café ou no passeio, mesmo junto ao rio. Gostam da água escura e do sol a brilhar. Gostam de imaginar peixes e sentir o ar que vem do lado do mar. ‘A água não parece leite, pois não?’ ‘Isso é bom. Não parecer leite’. Vão sorrir quando quiserem. O sol e o calor exigem muitos líquidos. Muito vinho comprado em pacotes de um litro ou em garrafões sem rótulo.
Vão sentir calor, vão sentir sede, vão sentir dores e espasmos. Num dia pior, um deles vai vomitar durante muito tempo e vai pensar em desistir. ‘Já só faltam dois dias. Passa depressa. Queres comer alguma coisa?’ Mas a comida não estava nos planos nem no orçamento.
Quando acordarem no hospital lembrar-se-ão de um sol abrasador a reflectir no rio. ‘De um lado sinto o ar fresco, do outro lado consigo ver a ponte.’
No hospital vão confirmar o parentesco. Um chama-se Artur, como sabemos, o outro, conhecido por Pato, é o Miguel.

sexta-feira, junho 10, 2005

Tozé Raquetas II.

Há alguns dias atrás recebeu uma carta do Tribunal de Pequena Instância Criminal que o informava de um processo de penhora pendente contra ele. ‘Foda-se. Eu não devo nada a ninguém!’
Sem saber o que fazer, foi ao tribunal para esclarecer o assunto. Até falou com o Nando e o Nelo, caso fosse preciso ajuda para convencer o juiz de que ele não devia nada a ninguém. ‘Logo eu, o único tipo honesto neste Bairro.’
Ficou a saber que o processo correspondia a uma multa de estacionamento. Um infracção cometida há dois anos. ‘Diz aqui: estacionou o veículo em local não permitido, tem aqui o nome da rua, a hora e a matrícula. Aqui está o seu nome. A assinatura a dizer que recebeu a notificação. Está a ver aqui a cópia da carta de condução? Até tem a sua fotografia.’, esclareceu o funcionário judicial. ‘Agora tem que pagar 283 euros, senão vamos lá a casa e levamos alguma coisa. Tem bens próprios?’ ‘Só uma mota e uma aparelhagem!’ ‘A mota deve chegar.’
Regressou ao Bairro desolado. ‘Foda-se... 283 euros.... Como é que isso aconteceu? Tu nem carro tens?’ O Nelo e o Nando não o podiam ajudar, mas estavam solidários.
Há mais de dois anos, pediu o carro emprestado a um primo mais velho que vive em Francos. ‘É para levar uma miúda a jantar, perto de Espinho.’, justificou envergonhado.
O primo emprestou o carro, recomendou cuidado e até lhe ofereceu meio depósito de gasolina para ele não se preocupar com isso.
Passado algum tempo o primo mostrou-lhe uma multa. ‘Diz aqui Espinho. Estacionaste em cima de um passeio, não foi? Agora vais ter que pagar.’ O Tozé não ligou, preencheu o papel para a identificação do condutor e nunca mais pensou no assunto. Até agora.

quarta-feira, junho 08, 2005

Octávio IV.

‘Você sabe como é dormir com a cara em cima das notícias de há três semanas atrás?’ As notícias estão nas folhas sujas de um jornal. Parte da secção local. Ele não sabe quantas vezes nem quantas pessoas já leram aquelas páginas de manhã, de tarde, quando acordam. Quantas pessoas se sentaram e se deitaram em cima daquele jornal. Ou se alguém embrulhou dois rissóis e um pastel de carne comprados na pastelaria e abandonou as folhas na berma do passeio, num banco do autocarro.
‘Tem cá notícias do Bairro. Com fotografias. Podia ser eu ali.’, aponta uma imagem suja, borratada. ‘Morreu. É o que diz aqui. E eu acordei com isto debaixo da cara, caralho.’
Deixou as folhas amarrotadas no primeiro caixote do lixo que encontrou. Ofereci-lhe um jornal novo, com mais páginas, mais actual. ‘Lá em baixo, na fábrica, temos muitos jornais e papelões. Obrigado.’

terça-feira, junho 07, 2005

Teresa III.

‘Aqui não se fia álcool!’ avisa um cliente com registo de calotes em todos os cafés das redondezas. Ele insiste que ‘é só um martini, depois vou a casa e trago o dinheiro.’ O café é como se fosse a casa de Teresa. Gosta de receber as pessoas com um sorriso, com uma piada. Quando não tem clientes, senta-se numa mesa a fumar e a folhear o jornal. Chama três amigos para jogarem uma sueca com ela. Tira três finos. Dois cafés com cheirinho. Faz duas tostas mistas. Não gosta quando os clientes bebem demasiado, nem quando fazem barulho. ‘Eu deixo ficar aqui o casaco!’, o cliente precisa mesmo de beber aquele martini para conseguir ir a casa e voltar. ‘É rápido.’ ‘Nem martini nem cerveja. Não fiámos bebidas.’, grita sem paciência a Teresa enquanto pousa as cartas e interrompe mais uma vez a partida para tirar outro café, mais dois finos e arrumar o jornal deixado aberto em cima de uma mesa. ‘Não vale a pena insistir!’

segunda-feira, junho 06, 2005

António III.

‘Ó doutor, olhe o telemóvel. Nunca o deixe ficar no carro.’, mais um carro, mais uma moeda. Está quase sempre bem disposto, nunca discute com os mais novos que lhe querem roubar parte do território. ‘Este gajo chegou cá há dois meses e pensa que isto é tudo dele! Guarde telemóvel que estes tipos não são de confiança.’ Já não tem idade para discussões. Quando vê um concorrente vai-se embora para não arranjar problemas. Trabalha menos do que os outros e ganha mais. ‘É a experiência!’, diz. Não passa mais do que duas horas de pé. Escolhe sempre as alturas em que está mais gente a chegar e a sair. ‘Pensas que eu sou burro, não! Estes novatos não sabem fazer contas. Eu venho cá duas horitas de manhã, mais uma ou duas à noite e já dá para tudo. Ultimamente até tenho juntado uns contos.’ Não gosta de trabalhar ao sol, com muito calor. Fica transpirado e a pele envelhece mais cedo. Como quase toda a gente, também ele está preocupado com o futuro.

sábado, junho 04, 2005

Jim louco por ti II.

Entre outras coisas, Jim foi um herói contra-revolucionário. Sempre que pode usa um casaco de trespasse azul-escuro com botões dourados. No bolso do peito gravou a sigla do movimento que fez tremer a revolução em Lordelo do Ouro.
Nas últimas eleições tentou fazer-se nomear como coordenador local do partido nacional renovador, porque teve pena deles e ‘dos cartazes tão mal feitos e fotocopiados’. Não foi aceite porque não conseguiu esconder que morava no Aleixo, porque se recusou a cortar o cabelo e não disfarçou o cheiro a haxixe que lhe saía do bolso das calças. ‘Não os posso fumar? Ó colega, donde é que tu és?’, disse indignado ao funcionário do partido que supervisiona os novos militantes. Saiu da minúscula sede a gritar ‘é por isso que este país não anda para a frente. Um gajo quer ser militante e já não pode! Para a próxima venham-me pedir para fazer explodir uns carros que eu digo-vos!’
Agora está a pensar seriamente deitar fora o casaco, comprar uma camisola de lã, um lenço com motivos étnicos e oferecer-se como colaborador dos camaradas do bloco de esquerda. ‘Pelo menos ganho uns trocos a vender uns sabonetes!’

quinta-feira, junho 02, 2005

Antologia.

O Pedro, o Joquinha, o Ruquinha, eu próprio, o Brocas e mais alguns ilustres habitantes do Bairro decidiram gravar uma compilação de homenagem ao Bairro do Aleixo: Aleixo on the move – 2005.
Entendemos por Bairro do Aleixo esse imenso território que vai desde Coina, no Alentejo, até Ushuaia, na Terra do Fogo, e que já foi pisado por algum aleixoense (este termo é uma citação das preciosas notícias na imprensa diária).
A Comissão de Moradores, Traficantes, Consumidores e Outros Negociantes do Bairro do Aleixo já aprovou esta colectânea e garantiu parte significativa do financiamento necessário para a sua edição.
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A lista das canções escolhidas para o primeiro volume deste êxito nacional é a seguinte:
1. Xico Fininho, Rui Veloso: porque a Cantareira não é longe do Aleixo e ele vinha cá comprar os seus pacotes. Sugestão do Joquinha.
2. O Corpo é que paga, António Variações: a sugestão foi do Brocas, depois do Joquinha ter sugerido a anterior.
3. I’m getting sentimental over you, Jimmy Scott: porque o Pedro gosta de fumar charros a ouvir Jimmy Scott.
4. Cry (if you want to), Holy Cole: porque o Pedro gosta de fumar charros a ouvir Holy Cole.
5. Erva daninha alastrar, António Variações: porque o António lá de baixo sabe a letra de cor.
6. Desaperta-me o coração, autor desconhecido: porque o Jim Louco Por Ti curte a canção.
7. Unchain My Heart, Ray Charles: porque o Jim Louco Por Ti aportuguesou a canção.
8. Hit the road Jack, Ray Charles: porque tanto o Ray como o Jack davam nela e o Jack finou-se há alguns anos e temos saudades dele.
9. Heroin, Velvet Underground: só o Tozé é que curte a música, mas podia ser usada num spot promocional. O Brocas hesitou na aprovação.
10. Jeremias, o fora da lei, Jorge Palma: porque alguém sugeriu, o Ruqinha é fã e nós aceitamos, mesmo sendo de um ex-alcoólico que não nos interessa minimamente.
11. Future, Leonard Cohen: porque a Michele traz sempre uma citação desta canção ao peito.
12. Ne me quittes pas, Jacques Brel, mas cantada pela Nina Simone: porque ela é a maior, porque o Brocas se passa quando a ouve e porque o Joquinha não a pode ouvir. 13. Cinema Olympia, Caetano Veloso: porque foi a minha sugestão.
14. Je t’aime... moi non plus, Serge Gainsbourg com Brigitte Barbot: porque faz bem ao espírito e a algumas vidas sexuais.
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As escolhas para o primeiro disco ficam por aqui. Lamentavelmente, não há espaço neste volume para inserir nenhum tango, nem nenhuma das sugestões do Ruquinha. No próximo volume resolveremos esta falha.
Na parte final do encontro, o Brocas desatou ao murro ao Joquinha, que se recusou a fazer parte do grupo que vai escolher as canções para o próximo volume. Só problemas para resolver. O Bairro do Aleixo está cheio de pessoas com a sensibilidade à flor da pele.