No Bairro do Aleixo

quarta-feira, junho 08, 2005

Octávio IV.

‘Você sabe como é dormir com a cara em cima das notícias de há três semanas atrás?’ As notícias estão nas folhas sujas de um jornal. Parte da secção local. Ele não sabe quantas vezes nem quantas pessoas já leram aquelas páginas de manhã, de tarde, quando acordam. Quantas pessoas se sentaram e se deitaram em cima daquele jornal. Ou se alguém embrulhou dois rissóis e um pastel de carne comprados na pastelaria e abandonou as folhas na berma do passeio, num banco do autocarro.
‘Tem cá notícias do Bairro. Com fotografias. Podia ser eu ali.’, aponta uma imagem suja, borratada. ‘Morreu. É o que diz aqui. E eu acordei com isto debaixo da cara, caralho.’
Deixou as folhas amarrotadas no primeiro caixote do lixo que encontrou. Ofereci-lhe um jornal novo, com mais páginas, mais actual. ‘Lá em baixo, na fábrica, temos muitos jornais e papelões. Obrigado.’

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