Isabel III.
‘Por onde tens andado, rapariga?’, perguntaram-lhe quando se aproximou da primeira torre.
‘O gajo arranjou trabalho lá em baixo e eu fui com ele. Pensei que ia ser bom.’ Lá em baixo é uma cidade do Algarve, bem longe do Porto, da mãe, da família, do Aleixo.
Apanhou um comboio pouco tempo depois de ter chegado ao Bairro com três sacos de plástico, uma mala velha e nenhum lugar para onde ir. Lá em baixo afinal não havia trabalho. Apenas uma promessa e uma esperança. Conseguiu sobreviver com biscates pontuais e horas extraordinárias em bares duvidosos. ‘Foi necessário. O gajo não me ajudou nada. Passado três semanas só aparecia em casa para me pedir dinheiro.’
Nunca deu notícias e fugiu de quem a procurou. Dizem que a mãe se preocupou. Viram-na no Bairro algumas vezes, parada dentro de um carro, na expectativa de a ver passar, de saber que ela esteve ali.Está muito magra, visivelmente doente e sem força para resistir. Conseguiu cravar o primeiro chuto de uma nova temporada. Sentou-se na berma do passeio a chorar. ‘Só quero que isto acabe depressa. Muito depressa. Quanto é que achas que é preciso para morrer em paz?’
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home