No Bairro do Aleixo

domingo, maio 29, 2005

Casimiro.

Ou ‘Cuidado com as imitações, ó Casimiro!’
Nasceu para os lados da Cantareira há mais de sessenta anos. A pele ainda está queimada das muitas horas que passou ao sol, no meio da água, a arrastar as redes, a polir os cascos, a pintar a madeira, a carregar caixotes de sardinhas. ‘Fazia de tudo. Quando sobrava tempo escrevia versos para cantar à noite, aqui ao lado.’ Quando se reformou decidiu dedicar mais tempo ao fado. Agora é uma estrela. Da Rua do Ouro ao Campo Alegre toda a gente o trata pelo nome. Ao fim da tarde, costuma apanhar o barco para a Afurada, para cantar uns fados.
‘Aqui já não se canta. Vamos para a tasca do outro lado do rio.’, explica enquanto bebe mais um bagaço, dos que arranham a voz, sentado na esplanada do Centro Popular dos Trabalhadores da Freguesia de Lordelo do Ouro. ‘Grande voz, a dele. Só visto! E escreveu muitos versos. Muitos e bonitos. Mais do que muita gente que p’raí anda.’, informa-me um admirador.
Está sol no Bairro do Aleixo e arredores. Sente-se o cheiro de sardinhas assadas. Há festa no Bairro e ouve-se alguém a gritar ‘Ó Casimiro, canta-me um fado que eu pago-te um copo. Não és homem nem és nada!’