Dona Rosa.
Vive de uma pensão de quarenta e dois contos mensais, devidamente transformados em euros. Não tem familiares por perto. O único filho que teve parece ter-se esquecido dela há alguns anos. É viúva há doze anos e, desde então, vive sozinha. Quando lhe perguntam como vai o miúdo ela responde: ‘Um malandro. Esforcei-me para o criar e ele nunca mais quis saber de mim.’
Grande parte dos dias são passados com lamentos pela falta de sorte e pelo destino que lhe atribuiu uma pensão que ‘não chega para nada, muito menos para ser roubada’ No tempo que lhe sobra vê televisão e prepara duas refeições que serve em dois pratos pequenos, numa mesa velha. ‘Um é para o meu falecido, que deus o tenha, o outro é para mim. Como sempre pelos dois, não deixo estragar nada.’
Ao fim da tarde gosta de beber um copo de vinho tinto e dar duas de treta com a vizinha do lado quando ela está para isso. Custa-lhe muito descer as escadas e precisa de ter sempre um bom motivo para esse esforço extraordinário.
As únicas ocasiões em que mostra ainda ter energia é para insultar o outro vizinho de patamar ‘se eu fosse mais nova, eles viam aonde eu lhes punha os dentes.’
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