No Bairro do Aleixo

quarta-feira, maio 18, 2005

Francisco.

Ficou conhecido por trazer pessoas importantes ao Bairro do Aleixo. Um dia apareceu a conduzir um Mercedes de grande cilindrada. ‘Acabei de partir a cara ao dono. Daqui por uns dias devolvo-lhe o carro. Ele não tem tomates para ir à polícia.’
Não nasceu no Bairro. Quando foi despejado da casa onde vivia por não pagar a renda, mudou-se para cá, para casa de um amigo. Deixou-se ficar algumas semanas enquanto procurava emprego. A Michele propôs-lhe trabalhar num duo com ela, num bar na Baixa. Durante a noite passou a chamar-se Fantastic Francis. O duo teve sucesso até um cliente se apaixonar por ele e lhe propor sair do bar para ir viver com ele. Ele aceitou e acabou-se a parceria.
Andou feliz durante muito tempo. Frequentava a alta sociedade, dava festas na nova casa, participava em orgias, viajava com o namorado, comprava muita roupa, consumia muita cocaína. Vinha muitas vezes com o namorado ou com alguns amigos ao Bairro fazer as compras da semana.
Ele e o ‘doutor Paulo’, o namorado, formavam um casal estranho. Francisco era um rapaz novo, bonito, alto, forte e muito pouco efeminado. O ‘doutor Paulo’ era baixo, magricela, cabelo ralo e grisalho, olhos opacos e bastante feminino. Mas era rico e famoso.
Deram-se bem até ao dia em que o Francisco, num estado de menor lucidez, perdeu a paciência e espancou o ‘doutor Paulo’. Roubou-lhe o carro e desapareceu. O ‘doutor’ ficou durante muito tempo abatido e triste, até ao dia em que encontrou o carro estacionado à porta de casa, chave na ignição e um bilhete que dizia ‘Há muitos mais cus por aí. A matrícula já é conhecida no Aleixo.’
O Francisco continua a dançar, tem vários nomes artísticos e uma carreira reconhecida em todo o país. Ocasionalmente visita o Aleixo.
O ‘doutor’ também tem a sua carreira reconhecida no país. Ocasionalmente refere o Aleixo como ‘um bairro do Porto, que eu conheço vagamente, só de passagem’, em conversas com amigos ou num artigo para um qualquer jornal diário, a propósito de algum assunto sem interesse.

7 Comments:

  • O undergound escondido da nossa(apesar de tudo) luminosa cidade? Hum... isso é tudo inspiração ou muita observação?

    By Blogger SMP, at 12:22 da manhã  

  • Olá,
    Em primeiro lugar underground, penso eu, é coisa que não existe nesta cidade. Luminosa apenas em dias de sol, como todas as outras...
    Quanto à inspiração e à observação: é preciso fazer umas compras e dar uns passeios para este lado da cidade para saber do que se trata.
    Eu estou por aqui. Quase sempre.

    By Blogger Hélder Sousa, at 3:17 da tarde  

  • Qual é o Bairro que tem todos esses 'Quins'? Aqui, oficialmente, só habita um. Anda por aí.

    By Blogger Hélder Sousa, at 3:18 da tarde  

  • Quase vizinhos. Gosto disso.
    hs

    By Anonymous Anónimo, at 8:19 da tarde  

  • Adorei o teu Blog. Vou passar por aqui todos os dias.
    descobri-o no talento da mediocridade.
    passa ple meu um dia (www.portuguessuaveamarelo.blogspot.com) Não tem nada a ver nem tem tanto "alimento". Parabéns.

    PS: ntão o Paulinho não conhece o aleixo???!!! Apenas de Passagem, pois....
    Eu trabalhei na Associação de Moradores durante a minha adolescência (D. Rosa e Cª Lda)...

    By Anonymous Anónimo, at 12:23 da tarde  

  • Mas quem será esse Doutor Paulo? Alguém o conhece??? Eu só conheço aquele que ficou amarrado à cama... mas foi no estrangeiro!!!??!

    By Anonymous Anónimo, at 6:30 da tarde  

  • Digamos que há várias versões do mesmo doutor Paulo. O Bairro também pode ser estrangeiro, se quisermos... o resto são histórias e as semelhanças são apenas semelhanças.
    hs

    By Anonymous Anónimo, at 7:02 da tarde  

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