EDP ou a Electricidade do Paulo.
Paulo Linhas é um ilustre comerciante do Bairro do Aleixo, com talentos reconhecidos em toda a cidade. É perito em transacções arriscadas e tem o exclusivo das substâncias mais radicais. Recentemente ocupou dois apartamentos desabitados, no mesmo andar de uma das torres. Deitou uma parede abaixo e construiu uma sala de exposições de fazer inveja aos representantes de algumas marcas sul-americanas. Pintou paredes, instalou novos equipamentos, renovou as instalações eléctricas e as canalizações.
O único problema que não conseguiu, ou não quis, resolver sozinho foi a questão da electricidade necessária para abastecer as novas instalações, pelo que teve que pedir auxílio à vizinha do lado, a Dona Rosa. ‘Fez uma puxada do quadro dela e resolveu o problema!’, contou-me o Xico electricista da terceira torre.
Dona Rosa é uma senhora viúva com mais de sessenta anos, que ficou muito baralhada quando recebeu uma conta para pagar de valor bastante superior aos seus rendimentos mensais.
Apesar de ser uma mulher doente, está habituada a resolver os problemas sem ajuda de ninguém. ‘Se o meu falecido fosse vivo, contava-lhes uma história. Que isto aqui é uma pouca vergonha.’ O falecido morreu há mais de dez anos e a única coisa que deixou foi um filho que não dá sinal de vida há pelo menos sete.
A dona Rosa fez uma espera ao Paulo Linhas no patamar das escadas e quando o viu a subir, acompanhado de duas raparigas que mal se seguravam de pé, desatou aos gritos e a chamar-lhe uma quantidade de nomes difíceis de transcrever. Na rua ouviu-se ‘...uma pouca-vergonha, uma mulher a viver de quarenta e dois contos por mês e estes gandulos ainda nos roubam mais. Filho da puta é o que tu és. Se isto não acaba chamo a polícia e acendo um fósforo aí dentro para ver se morres...’ Alguns vizinhos aproximaram-se, mas ninguém teve coragem para apoiar a dona Rosa. Diz quem ouviu que ela também insultou toda a gente que a olhava calada, enquanto que a única coisa que saiu da boca do Paulo Linhas foi um muito doloroso ‘Ai o caralho da velha!'
Saiu de casa a correr e a fazer juras de vingança. ‘Ele vai ver. Ando eu aqui a contar tostões para viver...’
Os clientes do Paulo Linhas encontraram a loja fechada nos dois dias seguintes. ‘Por precaução’, soubemos nós. A loja é importante e o volume de negócios justifica alguma cautela e um contador de electricidade dedicado.
3 Comments:
Surpreendente de humanidade e dissecação, o seu blog. Hei-de voltar ao Bairro. Um abraço.
By SMP, at 9:00 da tarde
Também...180 € de conta de electricidade... vai lá vai!
By Nuno, at 9:56 da tarde
Voltem, voltem sempre. Como curiosos ou clientes. Voltem, voltem sempre.
hs
By Anónimo, at 2:16 da tarde
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