No Bairro do Aleixo

sábado, maio 14, 2005

Joaquim III.

‘Boa noite. Há muito tempo que andamos à tua procura.’ Estava encostado a um caixote do lixo, a recuperar energias para caminhar, quando um carro parou ao seu lado. Saiu um tipo novo, bem vestido, quarenta e tal anos, óculos de massa e porte seguro. Disse-lhe qualquer coisa que o assustou. ‘Eu não fiz nada. Não tenho nada comigo.’ Estava cansado e sem coragem para resistir. Há quase vinte horas que não comia nada e a ressaca estava quase a chegar, outra vez.
Olhou para o tipo que lhe falava. Deslassaram-se-lhe os joelhos e caiu. Desmaiou. Conseguiram sentá-lo no banco de trás e arrancaram a grande velocidade. Desde essa noite ninguém voltou a ver o Joaquim nem no Bairro do Aleixo, nem na bomba de gasolina da BP.
Alguns dias antes o mesmo carro passou várias vezes no Aleixo. Sempre com as mesmas pessoas a fazerem perguntas sobre uma fotografia muito manuseada. Diziam-se familiares dele. Precisavam de o encontrar, de saber onde ele estava.