Tozé Raquetas II.
Há alguns dias atrás recebeu uma carta do Tribunal de Pequena Instância Criminal que o informava de um processo de penhora pendente contra ele. ‘Foda-se. Eu não devo nada a ninguém!’
Sem saber o que fazer, foi ao tribunal para esclarecer o assunto. Até falou com o Nando e o Nelo, caso fosse preciso ajuda para convencer o juiz de que ele não devia nada a ninguém. ‘Logo eu, o único tipo honesto neste Bairro.’
Ficou a saber que o processo correspondia a uma multa de estacionamento. Um infracção cometida há dois anos. ‘Diz aqui: estacionou o veículo em local não permitido, tem aqui o nome da rua, a hora e a matrícula. Aqui está o seu nome. A assinatura a dizer que recebeu a notificação. Está a ver aqui a cópia da carta de condução? Até tem a sua fotografia.’, esclareceu o funcionário judicial. ‘Agora tem que pagar 283 euros, senão vamos lá a casa e levamos alguma coisa. Tem bens próprios?’ ‘Só uma mota e uma aparelhagem!’ ‘A mota deve chegar.’
Regressou ao Bairro desolado. ‘Foda-se... 283 euros.... Como é que isso aconteceu? Tu nem carro tens?’ O Nelo e o Nando não o podiam ajudar, mas estavam solidários.
Há mais de dois anos, pediu o carro emprestado a um primo mais velho que vive em Francos. ‘É para levar uma miúda a jantar, perto de Espinho.’, justificou envergonhado.
O primo emprestou o carro, recomendou cuidado e até lhe ofereceu meio depósito de gasolina para ele não se preocupar com isso.
Passado algum tempo o primo mostrou-lhe uma multa. ‘Diz aqui Espinho. Estacionaste em cima de um passeio, não foi? Agora vais ter que pagar.’ O Tozé não ligou, preencheu o papel para a identificação do condutor e nunca mais pensou no assunto. Até agora.
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