No Bairro do Aleixo

segunda-feira, março 15, 2004

A Primavera no Bairro

Até há quem se sinta mais alegre, mais excitado. Noto um aumento de afluência de carros e de pessoas a pé. Os novos edifícios ao fundo da rua já estão habitados e trazem algum movimento saudável ao Bairro. Há pessoas que não fazem compras a circular.
É importante lembrar que o Bairro do Aleixo tem duas faces distintas, mesmo que concorrentes: as pessoas que vivem no Bairro e nas ruas envolventes e as pessoas que não vivendo aqui, passam cá os seus dias ou, pelo menos são presenças assíduas nas entradas dos prédios, nos poucos baldios que ainda existem, nas ruas e nos passeios. Dentro destas há ainda presenças mais ou menos assíduas, algumas que eu reconheço outras que me parecem sempre novas, sempre diferentes. Mas isso também tem a ver com os cabelos e com as barbas que crescem e escurecem.
Até há bem pouco tempo, antes de abrirem a nova rua junto ao edifício do centro comercial, que liga a Rua do Campo Alegre aos novos edifícios, as pessoas que cá vinham comprar alguma coisa paravam o carro junto à igreja ou na curva, junto ao muro do quintal da igreja, nas Condominhas. Desciam a pé até ao Bairro para depois voltar. Era também normal esperar na rua, lá em cima, alguém vinha ter com eles e tratavam do negócio. Agora, com uma nova ordem na circulação de carros e de pessoas o centro do movimento passou mais para baixo, mesmo junto à primeira torre. Apesar dos novos edifícios terem seguranças vinte e quatro horas por dia, eles não interferem no movimento habitual. Alguns estão até a estudar formas de potenciar rendimentos extraordinários através da rentabilização da proximidade que têm com os edifícios sede do Bairro.
Estava a falar do aumento de frequência de pessoas no início da Primavera. É fácil de prever um maior movimento de clientes ao fim de semana e em noites de lua cheia. Quando chove o negócio não é bom. Quando há notícia de alguma grande apreensão de estupefacientes, os clientes amontoam-se mas não há mercadoria. Há sempre uma explicação mais ou menos lógica para as flutuações de mercado no Bairro. É só preciso estar atento e falar com as pessoas especialistas na análise dos movimentos.
O factor importante que justifica o aumento do número de pessoas que procura o Aleixo, agora, é a Primavera e o calor. O ar fresco do rio e do mar ajuda à criação de uma mística em torno do Bairro. As noites começam a ser mais agradáveis. Tenho pena de ultimamente não ter muito tempo disponível para estar a par das novidades do mercado. Chegou-me aos ouvidos que a heroína está a aumentar de preço e que a cocaína, pela crescente oferta está a baixar de preço. Até agora o que mais se procurava era heroína e, quando muito, bases de coca. Têm havido alguns esforços concertados dos vários estados exportadores e produtores de coca para que o preço baixe e assim aumente o consumo. Só com muita procura é possível justificar os acordos com os governos importadores. Marquei uma viagem à América do Sul para investigar in loco este fenómeno. Vou tentar falar com os responsáveis, ou pelo menos com pessoas próximas dos responsáveis, das grandes manufacturas bolivianas e colombianas.
Também se está a assistir a um fenómeno de preparação para o Euro 2004. A grande afluência de turistas e consequente aumento da procura não pode deixar de ser aproveitada pelos retalhistas e pequenos comerciantes. Para isso é necessário criar reservas. Disseram-me que o esforço para criar reservas vai fazer com que nos meses que antecedem o campeonato, principalmente Maio, vai ser mais difícil e mais caro encontrar boa mercadoria. Os grandes armazenistas vão-se retrair na oferta para não serem apanhados com stocks em baixo na altura do campeonato. Isto também explica de certa forma o aumento da procura agora. Há ainda outro factor a ter em conta: durante o campeonato de futebol as fronteiras vão estar fechadas, pelo que será mais difícil e, acima de tudo, mais demorado trazer a mercadoria para Portugal.
Espero analisar mais calmamente estas flutuações de mercado e os fenómenos a elas associados no futuro.

sexta-feira, março 05, 2004

Antes de entrar no Bairro do Aleixo

O Bairro do Aleixo é um conjunto de cinco torres, com cerca de 16 andares, situado a norte do Douro, na cidade do Porto, junto à foz do rio. Foi construído no final dos anos setenta e desde então é ocupado por um conjunto muito interessante de pessoas. Estes edifícios situam-se numa das zonas mais procuradas da cidade, junto ao rio, a dois minutos do mar e da foz velha, e foram construídos de forma a que nenhuma das janelas dos apartamentos tenha vista para o rio ou para a foz. Esta particularidade é, talvez, uma das características mais interessantes do Bairro.

Se por acaso estiver interessado em informações mais pormenorizadas sobre este ou sobre outros bairros sociais camarários da cidade do Porto deverá procurar bibliografia especializada e mais credível.

Para se chegar ao Bairro do Aleixo existem muitos caminhos possíveis. Se optarmos pela via mais normal, ou seja pelas ruas da cidade, temos as seguintes opções:

De táxi: apanhar um táxi e dizer ‘para o Bairro do Aleixo, por favor’. O taxista vai olhar para nós com desconfiança antes de meter a primeira. Quando lá chegar vai dizer ‘são seis euros, quer que espere?’. E nós dizemos ‘não, eu vivo aqui, obrigado’.

De autocarro: existem várias opções. O 35 é talvez a mais divertida. Da baixa para a foz, o 35 pára à entrada do Bairro do Aleixo, na Rua das Condominhas ou antes, na Rua do Campo Alegre, perto da garrafeira. No sentido inverso, da foz para a baixa, pára quase nos mesmos sítios mas do outro lado da rua. Para quem nunca lá foi, a forma mais fácil de reconhecer a paragem é estar atento à população. Quando saírem as pessoas magras, com olhar ansioso e a cheirarem muito mal, nós saímos a seguir.

Há ainda a possibilidade de, depois das nove da noite, apanhar o 78. Durante o dia o 37 também passa no Campo Alegre, mas não passa nas Condominhas e vai só até aos Aliados. Se por alguma razão falharem a paragem, não se preocupem, a próxima também vai lá dar e se não encontrarem o caminho, perguntem à primeira pessoa que virem: ‘onde é o Aleixo?’. Qualquer pessoa sabe o caminho mais curto para lá.

De carro ou a pé: tal como com as estações de comboio, há sempre vários caminho para lá chegar. Podemos explorar todos os dias um caminho novo, um atalho, umas escadas. No entanto há dois pontos de referência indispensáveis. O primeiro é para quem vem do lado do rio. Temos a marginal, temos a Cantareira, temos o Gás. Aí é sempre a subir até aos prédios altos. Pode-se perguntar ou simplesmente seguir as pessoas. Algumas das ruas que dão acesso ao Bairro deste lado são: Condominhas, Rua do Aleixo e uma nova rua, perto da cimenteira que ainda não deve ter placa com nome. Para quem vem da VCI, ou da Boavista, ou da baixa pelo meio da cidade, o ponto de referência é a Rua do Campo Alegre. Perto do hotel. Uma vez aí é só descer alguns metros. Pode-se ir pela Travessa das Condominhas ou pelo meio do novo condomínio mais ou menos vigiado que nasceu atrás do centro comercial do Campo Alegre. Tendo como base estes pontos de referência, é só deixarmo-nos perder nas ruas e encontraremos sempre novos motivos de interesse para dar um belo passeio nesta zona da cidade.

Antes ainda de avançarmos para o Bairro, convém dizer que não vamos entrar numa zona perigosa, não vamos entrar no paraíso, não vamos ser violados, espancados ou assaltados. Não vamos entrar no Rio de Janeiro português, não vamos sentir coisas nunca antes sentidas. Não vamos, enfim, ter experiências transcendentes. É no entanto aconselhável não abandonarem os objectos pessoais e não levarem jóias ou muito dinheiro. Ninguém vai querer assaltar, mas existem mercadorias caras à venda que pode ser difícil não querer comprar. Evitemos as tentações.

segunda-feira, março 01, 2004

Abertura

No Bairro do Aleixo vive-se como noutro bairro qualquer. A diferença é que os outros bairros não têm este blog. Boa visita.