No Bairro do Aleixo

segunda-feira, outubro 17, 2005

O pacote.

Ela segura um cãozinho branco pela trela. Ligeiramente maior que o menino das alianças. Peludo. Com um laçarote vermelho ao pescoço. Veste calças castanhas sujas, uma camisola de lã velha e o cabelo penteado para trás, preso com dois ganchos brilhantes.
‘Ó Amadeu, nem digas isso. Por amor de Deus. Eu não te fazia uma coisa dessas. Há quantos anos é que me conheces. Procura melhor. Foda-se. Juro-te que não fui eu. Tem que estar aí. Procura melhor…. ó Amadeu, vai-te foder. Já me conheces há muito tempo. Eu não te fazia isso!’
O Amadeu enfurecido. Vagamente calvo. Calças de ganga, botas pretas e um casaco a cair pelos ombros. A mão direita a coçar com violência o braço esquerdo. Tem os olhos fixos no chão, mas com dificuldade em se concentrar num só ponto.
‘Não está aqui. Eu deixei cair aqui. O chão não é furado. Que é que queres que eu faça. Tu não viste? Vais-me dizer que desapareceu. Puta que te pariu. Estás a ver o pacote em algum lado?’
Ela a caminhar dois passos para a frente e dois para trás.
‘Foda-se Amadeu. Eu não te fazia isso. Procura melhor. O pacote tem de estar aí. Caralho, Amadeu!’
O Amadeu está desesperado. Vai-se embora a tremer. Não consegue procurar mais. ‘Vai-te foder, grande puta.’
Ela fica parada. Ar sério, mas a fingir.
‘Não te vás embora Amadeu. Procura melhor. O pacote tem que estar aqui.’
O Amadeu foi mesmo embora, foi comprar outro pacote.
O cão continuou a passear, mais agitado pelos gritos.
‘Vai te foder Amadeu. Mete menos branca.’

terça-feira, outubro 11, 2005

Um possível regresso.

Ainda não é definitivo mas é provável que, muito brevemente, os negócios continuem. Ouvimos umas notícias muito preocupantes e não podemos ficar ausentes por mais tempo.
Fala-se em actividades paralelas, clandestinas, junto a uma determinada discoteca nas imediações do Bairro.
Ao que parece uns senhores habituaram-se a estacionar uma carrinha cheia de sapatilhas, chapéus, t-shirts e outros artigos que são vendidos a baixo preço. A Comissão não gosta de negócios paralelos, muito menos da iniciativa de forasteiros.
Há no entanto um impedimento para a rápida resolução deste conflito: a área ocupada por estes senhores já não está na jurisdição da CMTCONBA, pelo que a intervenção directa se torna ilegal. É necessário encontrar alguma forma de resolver este pequeno problema.
A Comissão decidiu convocar uma reunião especial para tratar deste assunto. O Pedro sugeriu convidar para a reunião o Ruquinha das Milongas, o Tozé Raquetas e um amigo do Brocas, frequentadores regulares da discoteca, que poderão ajudar a resolver o problema.