No Bairro do Aleixo

quinta-feira, junho 16, 2005

As noites II.

Noites muito quentes e abafadas. Transpira-se muito. Há agitação no Bairro. A primeira torre não pára. Passos rápidos do primeiro ao sexto andar. Está vento, muito vento. Cruzam-se vultos, como fantasmas, nos patamares. Dois, três, quatro. Gestos nervosos, braços agitados. As janelas que cortam a torre de cima a baixo enchem-se de sombras. Terceiro, quarto, quinto andar. Silhuetas magras caminham em grupo. Ouvem-se gritos. Muito vento à noite significa mais calor para o dia seguinte. Vozes que chamam nomes. Insultos de uma para outra janela. Tiros. Sim, tiros. Três agora, mais dois depois. Do lado do rio e do mar vem uma brisa fresca. Mais gritos no meio da rua. Pessoas com medo. Uma motorizada a acelerar. Pessoas que fogem. Passos apressados no patamar do quarto andar. O café Caetano só fecha quando sai o último cliente ou quando a cerveja acaba. Portas a bater. ‘Vêm aí. Vêm Aí’. Pessoas escondidas. Um carro a travar. Mais tiros. Nunca se sabe de onde vêm, a quem se destinam. Transpira-se muito com o calor.

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