Espaços II.
Há mortes no Bairro do Aleixo. O último funeral foi o de uma mulher. Deixou um homem viúvo. Desolado. Pela primeira vez no Aleixo, alguém chorou com vontade agarrado a um caixão. Madeira escura, brilhante. Algumas gotas de água a salpicar o tampo por causa de um descuido da agência, mas ninguém reparou. Chorou durante várias horas, acompanhado por meia dúzia de pessoas desconhecidas.
‘Ela dizia-me que precisava de mais espaço. Eu nunca fiz nada. Só consegui responder-lhe: Espaço? Porra! O que tu precisas é que te preencham os espaços.’ Omitiu a última frase, mas dizem que continuava com ‘p’ró caralho!’ e um vaso pelo ar de encontro ao armário da cozinha.
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