Vinagre.
‘Binagre, é assim que me chamam, perguntem por mim se precisarem de alguma coisa.’ Dez minutos antes observava-nos ao longe. Correu para nós com um aviso ‘Desculpem lá mas a malta aqui não curte chapas novas e as vossas chapas não são de cá. Estão à procura de alguém?’ Mostrei-lhe uma fotografia. ‘Conheço perfeitamente, está cá todos os dias. Vi-a aí há coisa de uma hora. Tem um carro azul, uma carrinha, não é?’ Estava nervoso, com o olhar tenso e curioso. Numa das mãos fazia saltar meia dúzia de moedas, a outra guardava-a no bolso do casaco, quieta. ‘Se quiserem mesmo encontrá-la, lá para as sete ela volta cá, quando o Pirolito abrir a loja. Tás a ver?’ Durante as tardes o Bairro está mais calmo, algumas pessoas sentadas, dois carros em vigília, pessoas a caminhar de um lado para o outro. As ‘lojas’ estão fechadas e só abrem ao fim da tarde. Entretanto fazem-se negócios paralelos com o que se consegue arranjar.
Numa das entradas do Bairro uma carrinha aberta vende meias e lingerie. Uma mulher morena fala alto para o outro lado da rua. Um tipo magro sai a correr de uma das torres. ‘Foda-se, foda-se. Esta merda não pode ser assim!’ Agora escurece mais cedo no Bairro e na cidade. Os putos deixam de jogar à bola, querem chegar a casa depressa, está frio.
‘Sim, Binagre. É mesmo Binagre.’ Insistiu no nome. ‘Desculpem lá essa cena das chapas. É maneira de dizer.’
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