Júlia.
É uma mulher bonita. Medidas certas, sorriso certo, cabelo sempre na posição certa. Mudou-se recentemente para o Bairro, para a casa de um tio falecido há alguns meses. Aproveitou a renda baixa e o quarto deixado livre para sair de Ermesinde: partilha o andar com duas primas e ajuda nas despesas da casa.
Não tem feito muitos amigos na vizinhança. Fala-se dela em tom sussurrado, olham-na de soslaio e comentam as visitas que recebe durante o dia. Caminha muito segura de si, com o nariz levantado: finge não conhecer as regras do Bairro. Gosta de ser subversiva, de dar nas vistas e causar escândalos. Fala pouco, mas não aceita um piropo calada. Quando lhe dizem ‘lambia-te aquilo que mais gostas’ responde sem pensar ‘a pila do meu homem!’ E toda a gente sabe que ela não tem homem. E toda a gente desconfia de que ela tem vários homens.
Há dias alguém a viu com um polícia. Houve comentários e suposições. ‘A sobrinha do Xico Finado’, como lhe chamam é uma personagem misteriosa. Ninguém sabe que tem um anúncio na secção de lazer do Jornal de Notícias.
Ultimamente não tem passado tanto tempo no Bairro.
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