A Mimi dos Pratos.
A história começa na primeira metade dos anos oitenta. Ela não era do Bairro. Estudava na Faculdade de Letras, creio eu. Faltava às aulas porque passava as noites no Swing. Queria ser a ‘primeira mulher atrás dos pratos’, mas só aprendeu a servir Vodkas Martini ao fim de dois meses de insistência: esquecia-se sempre da azeitona e exagerava no Martini. Namorou com dois ou três rapazes. Desejou ser lésbica. Queria ser radical. Começou a trabalhar. Visitou o Bairro do Aleixo. Apaixonou-se por uma estrela da música pop e corava sempre que o via na rua, a sair dum café, a beber um copo num bar, num concerto. Passou grande parte dos ‘loucos anos oitenta’, como ela própria dizia, a correr atrás dos concertos do Grupo Novo Rock. Vestia-se com estilo. Voltou a visitar o Bairro. ‘Tinha cá amigos’. Desistiu de ser a pioneira dos pratos nacionais, mas a alcunha ficou. Agora é tarde de mais. Já não tem firmeza nas mãos para segurar a agulha sobre os vinis. Vendeu a colecção de discos, vendeu um faqueiro de prata na Vandoma. Já não precisa de visitar o Bairro, porque agora passa cá os dias. Está magra, cabelo ralo e óculos muito velhos. Às vezes ainda tenta vestir-se com estilo. Dorme no patamar do número setecentos e trinta e agulhas só conhece as que partilha com o companheiro.
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