No Bairro do Aleixo

sábado, novembro 06, 2004

Brocas’ Gang

Num domingo à tarde, sentado à mesa do café com alguns dos seus admiradores sobreviventes, Brocas teve uma ideia que transformou a sua vida num novo ponto de exclamação para os habitantes do Aleixo.
Tendo como objectivo combater a falta de orçamento para as suas despesas correntes e como colaboradores o Augusto e o Migas, começou a desenvolver uma actividade de roubo descarado de telemóveis, relógios, auto-rádios, pulseiras, brincos, colares, carteiras de couro, casacos deixados em automóveis e outros artigos de fácil transporte.
Grande parte do sucesso desta actividade está no facto de os alvos destes roubos serem os habitantes vizinhos do Bairro do Aleixo. Até agora, ninguém tinha encarado os novos empreendimentos habitacionais como um ponto estratégico para desenvolver novas actividades.
Inicialmente o escoamento dos produtos foi feito de forma tradicional: Vandoma, alguns contactos na Baixa, algumas lojas de artigos usados, uma ou outra feira das cidades vizinhas. O negócio começou a crescer. Mais empreendimentos, maior volume de negócios e o Brocas teve que alugar um armazém para reter o material durante algum tempo antes de voltar a colocá-lo no mercado.
Um dia em conversa com o segurança de um condomínio sugeriu-lhe, ‘como quem não quer a coisa e é a coisa que mais quer’, uma participação no negócio. ‘Em que termos?’ Perguntou o outro: um tipo robusto, com mais de cem quilos e olhar de mau. ‘Primeiro combinamos umas horas em que tu e os teus amigos vão dar uma volta, para não terem complicações comigo e não incomodarem a actividade. Depois, e se nos ajudarem a vender a mercadoria, podem ficar com vinte por cento dos resultados brutos.’
O segurança disse que precisava de pensar. Pensou e descobriu que os resultados líquidos e os resultados brutos nesta actividade coincidem. Juntou-se ao negócio e trouxe alguns colegas de outros turnos. O Brocas’ Gang aumentou de dimensão e de rendimentos.
Os seguranças dos condomínios começaram a criar uma carteira de clientes entre os moradores. É possível comprar um relógio que foi roubado ao vizinho da frente, é possível comprar um telemóvel igualzinho ao que desapareceu do bolso do casaco por um preço imbatível, e com alguma sorte, ainda com os números na agenda.
As despesas correntes do Brocas estão asseguradas.