No Bairro do Aleixo

quinta-feira, agosto 26, 2004

Hélder.

Não é fácil falar dele. Tem o mesmo nome que eu e a conversa que tivemos prolongou-se mais tempo do que o que devia. Tem vinte e oito anos e não é do Aleixo. Vem cá quando está desesperado. ‘Tens que me ajudar, eu já não aguento mais. Telefona à minha mãe. Diz-lhe para ela me vir buscar. Diz-lhe que eu já não aguento mais.’ Olhava-me com os olhos muito abertos, muito claros. Não era possível telefonar à mãe, não se telefona a nenhuma mãe por causa disto. Ainda temos alguma sensibilidade e a necessidade de boas histórias não é assim tão grande. ‘Se for preciso eu ponho-me de joelhos. Preciso de dez euros, por favor, eu preciso de cortar a ressaca.’ Cinco euros para a branca, cinco euros para a castanha. Não é preciso fazer confusões. Telefonei à mãe dele. ‘Quem é você? O que está a fazer com o meu filho?’ Não consegui falar. Ele falou-lhe. Pediu ajuda. Pediu ajuda. ‘Não consumo desde segunda-feira. Saí de casa no domingo. A minha mãe deixou de me dar a metadona. Eu não aguento mais.’ Vestia um casaco impermeável azul. O cabelo fino penteado para o lado. Falava muito devagar e com os olhos muito abertos. Prometeu nunca mais voltar ao Bairro.