No Bairro do Aleixo

terça-feira, agosto 24, 2004

Ana.

É uma mulher grande, negra, com um rosto duro e muito marcado. Arranja a farta cabeleira, que lhe cai pelos ombros, com gestos masculinos. Atravessa a rua com passos seguros como se soubesse que eu a observo, como se imaginasse que toda a gente a observa. Se fosse homem teria querido ser uma estrela, chamar-se Ágata Top, ser adorada todas as noites, ser desejada por homens e invejada por mulheres. Não sabe porque é que veio cá, não está habituada a ser ela a comprar droga. Está longe da sua cidade e fala mal português. Veio porque, dos sítios que lhe falaram, o Bairro do Aleixo era o que estava mais perto.