Tozé ‘Raquetas’ e os seus amigos
Trabalha numa loja de discos no Stop. Apanha todos os dias o 35 e sai perto de Belas Artes para poder caminhar um bocado, beber um café, fumar um cigarro e apanhar ar fresco antes de entrar ao serviço. Durante a hora do almoço lê os jornais desportivos, às vezes o Jornal de Notícias ou um romance que trás no saco. O último livro que leu chamava-se O Principezinho.
Despega do trabalho às seis e meia da tarde e volta a apanhar o 35. Sai a seguir ao Bairro e vai dar um passeio pela Pasteleira. Às vezes encontra uns amigos com quem costuma jogar futebol, bilhar ou, no Verão, ir à praia jogar raquetes, o seu desporto favorito.
Faz parte de um grupo de jovens do Bairro que não consome drogas. Nasceram aqui e não querem sair a menos que sejam obrigados. Se pudessem lançavam o Rui Rio ao mar, mas como ele prometeu não demolir as torres, até são rapazes para lançar só uns tomates na próxima visita do presidente ao Bairro.
Gostam do Aleixo e defendem o que é de cá como se da própria vida se tratasse. Apreciam mulheres, muitas mulheres, e têm aspirações a galãs de televisão. O tráfico passa-lhes quase ao lado. Quando alguém menciona a possibilidade de se juntarem à primeira torre ‘para ver se fazemos alguns cobres para bejecas’ ouve-se logo alguém a dizer ‘ouve lá, ò Nando, ´tás a perder a noção? Queres ficar sem tesão?’ Corre o boato de que a droga corta o tesão, mas eles ainda não consultaram este blog para se documentarem devidamente.
O Tozé, o Nando e o Nelo andam muitas vezes juntos. Estudaram até ao nono ano e depois fizeram-se à vida. Gostam de se divertir e são capazes de não beber durante duas semanas para poderem gastar dez contos numa noite no Rox, no Hard Club ou no Space. Muitas vezes assistem às reuniões da CMTCONBA. São o lado de sucesso do Bairro e o orgulho das famílias.
O Tozé teve um irmão em coma por causa de substâncias anormais misturadas com heroína. Agora ninguém sabe dele. Estará algures entre a Régua e o Pinhão a ganhar coragem para voltar a casa.
Um primo do Nando ficou sem um braço por causa da gangrena, meteu-se numa confusão com a policia e teve que pôr um olho de vidro. Orgulhava-se disso e, para se divertir, apanhava o 35 em hora de ponta e ia todo o caminho a brincar com o olho na mão.
O pai do Nelo foi preso por tráfico de heroína e por posse de arma durante uma rusga ao bairro. Foi a terceira e última vez até agora. Ainda não saiu de Paços de Ferreira.
O Tozé é o líder do grupo, como tem um bom emprego compra as melhores roupas, as sapatilhas da moda, vai a um cabeleireiro no shopping, ouve música diferente e até compra livros na FNAC.
Os outros têm por ele uma admiração secreta e uma pequena inveja por causa das raparigas. Nunca se manifestam porque o Tozé é um tipo discreto e apesar de ter mais sucesso com o sexo feminino não faz disso bandeira. Está apaixonado. É terceiro romântico do Bairro.
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