No Bairro do Aleixo

sábado, dezembro 04, 2004

Alberto.

Para os amigos é o Berto. Trabalhava nas obras, numa construtora da Maia. A última ‘grande obra’ em que trabalhou foi a construção dos acessos ao parque de estacionamento do Jumbo. Conheceu uma amiga dos primos, que moravam no Aleixo, e começou a vir ao Bairro aos domingos à tarde. Depois começou a ficar para segunda-feira. Às vezes chegava tarde outras vezes faltava ao trabalho – a remodelação de um armazém na Rua Álvaro Castelões. Ao fim de um mês foi despedido.
Ainda tentou trabalhar numa oficina de automóveis, mas as mãos grossas não serviam para os parafusos nem para as varetas do óleo e os clientes não o queriam nas lavagens manuais.
Passou mais dias no Aleixo e trocou as pratas pelas seringas. Mudou-se definitivamente. A namorada trocou-o por um colega e também se mudou. Para o Cerco. Os primos emigraram para uma cidade espanhola: seguranças privados de um estabelecimento de entretenimento. João, o seu último amigo, morreu.
O Berto estava hoje a dormir à porta de um prédio. De um lado tinha uma estante vazia, depois um banco, onde pendurou um casaco de couro castanho. No chão, um cobertor verde estendido, e junto ao vidro uma caixa de madeira. Junto à parede colocou alguns objectos pessoais alinhados por tamanhos.