No Bairro do Aleixo

quarta-feira, novembro 17, 2004

O Brocas’ Gang e a CMTCONBA

O negócio continua a correr. O armazém está quase sempre cheio, já não há sequer espaço para os vasos com flores que decoravam a entrada. Já se pensa em aumentar as instalações e diversificar a mercadoria transaccionada: incluir pequenos electrodomésticos, uma linha de equipamento audiovisual e talvez alguns dvds piratas.
Numa reunião da Comissão de Moradores, Traficantes, Consumidores e Outros Negociantes do Bairro do Aleixo, o Brocas’ Gang foi reconhecido oficialmente como um Grupo de Sucesso Criminal do Bairro do Aleixo – GSCBA –, distinção até agora apenas atribuída a grupos de tráfico de estupefacientes. A Comissão louvou a iniciativa e os princípios do BG – como passou a ser conhecido – e propôs uma colaboração mais próxima entre as duas organizações.
Por o BG ser a única organização criminosa com trabalho independente do narcotráfico, está numa posição privilegiada para servir de embaixador criminal do Bairro. ‘A polícia, no que diz respeito ao nosso Bairro, só se interessa pelo narcotráfico. Qualquer outro tipo de associação criminosa passa despercebida se a actividade estiver centrada aqui.’ Disse um dos elementos da direcção da Comissão. ‘Temos que tirar partido disso. Alguém tem sugestões?’
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Ninguém se fez parco em palavras e choveram sugestões de acções concertadas entre o BG e a Comissão. Não vale a pena referir todas as intervenções, uma vez que, mesmo boas, eram quase todas irrealistas ou iam contra os princípios do Brocas e dos seus sócios.
Pedro, mais uma vez, teve um papel importante nesta discussão ao chamar a atenção dos presentes para o facto de grande parte dos problemas com as autoridades terem origem nos novos empreendimentos que estão a ser construídos e habitados. ‘É por causa dessas pessoas que a polícia nos está sempre a chatear e são precisamente essas pessoas o alvo do BG. O que eu sugiro é que a acção deles seja focada no sentido de impedir que mais pessoas venham para aqui morar. Se as casas ficarem vazias, se ninguém quiser lá morar, a polícia deixa de se interessar por isto.’
Alguém comentou a meia voz: ‘Ainda bem que o rapaz voltou!’
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E foi assim que antes de assaltar residentes o BG começou a assaltar preferencialmente potenciais residentes, agentes e promotores imobiliários.