No Bairro do Aleixo

quarta-feira, setembro 08, 2004

Octávio II.

O cheiro piorou e já não diz bom dia a ninguém. Caminha com passos inseguros. Com a mão esquerda segura uma sandes de queijo e aperta o braço. Tem dores, muitas dores. Na mão direita leva um saco de plástico cheio de roupa suja. Nota-se que o Verão está a acabar no Bairro do Aleixo.

1 Comments:

  • Chamava-se Ricardo, ou melhor, era assim que se apresentava. Tocava à campaínha:"É o Ricardo do Centro".
    Arranjou um cartão falso da REMAR,apresentando-se como colaborador, e assim diambolava pelos prédios "agradecendo-se qualquer contribuição". Saía da Urbanização com os sacos cheios de comida, isso porque, já nessa altura, ninguém dava dinheiro, mas comida..."Claro que não pode ser para droga", comentavam os moradores felizes pela sua boa acção. Ele tornou-se uma presença assídua e todas as portas se abriam para contribuir com mais um pacote de massa ou arroz.
    Entretanto constou-se que também aceitavam comida como moeda de troca pelo tão necessitado chuto, e as portas começaram a fechar-se.
    Cruzei-me com ele no outro dia, passados mais de 5 anos. Ia cambaleante, bastante mais magro e muito sujo.
    "Deve ir para o Aleixo", pensei. E foi aí que me apercebi que todos nós conhecemos um Pedro, ou Xavier ou Sofia... e o Aleixo não está assim tão longe.

    By Anonymous Anónimo, at 5:46 da tarde  

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