No Bairro do Aleixo

sábado, abril 02, 2005

Alberto II.

Arranjou um quarto na torre quatro. Em casa de uma velhota viúva que ouve mal. Paga cinquenta euros por mês e compra o leite. Respondeu a um anúncio a pedir serventes de trolha. Mesmo sendo um bocado velho para servente, foi contratado à experiência. Trabalha das duas da tarde às dez da noite, sem intervalo. Não é muito. Já trabalhou muito mais. O salário é razoável. Dá para as despesas, mas não dá para a ‘castanha’ toda que precisa. Já tentou arranjar outro trabalho, distribuir folhetos nas caixas de correio mas não conseguia acordar de manhã. Desistiu ao fim de uma semana.
Depois de ter passado dois meses na rua, sem casa, sem dinheiro e a viver de frágeis expedientes que o mantiveram vivo, não pode dizer que está mal. Ajudou clientes do Bairro que não se conseguem injectar, em troca de pequenas dose de pó. Roubou ocasionalmente carteiras nos autocarros. Traficou cocaína e anfetaminas em bares e discotecas. Prometeu protecção a uma amiga em troca de quarenta por cento das receitas dela, o negócio acabou quando ela foi espancada e quase morta por um cliente.
Recebeu o primeiro salário este mês. Receitas fixas.