No Bairro do Aleixo

sábado, março 26, 2005

Michele IV.

Sexta-feira. Santo feriado. Poucas pessoas na rua. Um sol que não é sol, com chuva que não também não é chuva. O Bairro do Aleixo não parece o Bairro do Aleixo.
‘Ganda cena! Já viste o relógio?’, Michele acordou muito tarde e saiu de casa para comprar cigarros. Queria caminhar. Estava tudo parado no Bairro, até o relógio da igreja. Sem saber porquê apeteceu-lhe entrar e sentar-se durante alguns minutos num dos bancos, encostada à parede fria.
Só muito raramente sai à rua. Há quem diga que a maior parte das noites não as passa em casa. Que só cá vem de vez em quando visitar os pais e tenta passar despercebida. Usa sempre cabeleiras diferentes, que combina cuidadosamente com uma colecção de óculos escuros que trocou com uma amiga. ‘Ela devia-me alguns favores e antes de ir para Espanha ofereceu-me esta caixa. São bonitos, não são?’ Eram bonitos. Óculos de todas as cores, grandes, pequenos.