Zé.
‘Por acaso não tem aí cinco ou dez cêntimos para o tabaco?’ Foi assim que eu ouvi a voz dele pela primeira vez. Já o conhecia de o ver a subir e a descer a rua, com uma mochila pequena às costas. Às vezes entra num café para cravar um cigarro ou uma moeda.
Tem trinta e poucos anos, a cara marcada, o cabelo ralo e os olhos pequenos. É baixo e as mãos grossas fazem gestos curiosos enquanto fala.
Desceu várias vezes a rua à procura de alguém. Ao pescoço levava um cachecol do Porto, ainda tinha a voz rouca de gritar pela vitória sobre o Once Caldas, da Colômbia. ‘Eles podem ter droga melhor, mas foram enrabados como qualquer bom europeu.’
Estava frio e era domingo. Naquela parte da rua não estacionam muitos carros e a receita às vezes é demasiado fraca. De vez em quando ouvem-se carros a apitar.
Entrou uma última vez no café para se aquecer e pedir mais um cigarro. À saída tira o cachecol, dobra-o como se fosse novo e pergunta a dois miúdos que discutem o tamanho dos atacadores das sapatilhas. ‘Olha lá: quanto é que custa um cachecol destes aí na rua? Dez, quinze euros?’
Não sei se ouviu a resposta. Desceu a rua com o cachecol na mão, decidido a trocá-lo por quinze euros.
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