Jesus.
Nasceu há quinze dias. É filho da Teresa e de um vizinho que preferiu manter o anonimato. Afinal a Teresa não estava gorda, estava grávida e quando se soube disso houve grande alarido no décimo andar da torre dois. Partiram-se alguns pratos e arrastaram-se algumas cadeiras. Tudo acabou em paz porque não havia tempo para discussões e já era demasiado tarde para desmanchos. Aconteceu. Jesus nasceu já em época de festas e deram-lhe um nome a condizer.
Num final de tarde, há alguns dias atrás, bateram à porta do décimo andar. A tia do Jesus abriu a porta e deixou entrar o anónimo pai da criança, que não sendo santo nem tendo percebido a alegria de ter uma criança nesta época, desatou a partir alguns elementos de mobiliário ainda intactos. A criança foi cautelosamente protegida pela tia enquanto num golpe de euforia mais arrebatada se partiam duas das três janelas com uma cadeira de cozinha, daquelas com assento em fórmica branca.
Caíram alguns vidros nas traseiras do prédio, onde uns miúdos davam chutos numa bola e dois adultos davam chutos nos braços.
A tempestade passou e Jesus chora todas as noites. Ninguém sabe se são pesadelos, se é de não saber que é Natal ou se é do frio que vem lá de fora.
3 Comments:
Felizmente a história não se repete na maioria dos outros andares.
Fiquei de lágrima do olho...Talvez porque enquanto lia, escutava o Messias de Handl.
Feliz Natal ao Bairro do Aleixo.
By S., at 3:52 da tarde
Parabéns pelo blog que só conheci hoje. Prometo revisitá-lo. Esta "outra cidade" permanece esquecida, incompreendida, escondida: e não é só dos nossos olhos!
Os posts são belos: bem mereciam uma edição em papel.
Rio Fernandes
By Anónimo, at 12:51 da tarde
Obrigado pelo entusiasmo.
By Hélder Sousa, at 5:48 da tarde
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