No Bairro do Aleixo

quinta-feira, maio 13, 2004

Filipe.

Recordo-o como alguém próximo apesar de o ter encontrado apenas uma vez encostado ao muro da igreja. Veio a correr na minha direcção quando saí do carro. ‘Doutor, ‘tou todo fodido, falta-me um conto para comprar uma quarteira, não me desenrasca?’ Não é normal pedirem-me para desenrascar ‘contos para quarteiras’. Consegui meter a mão no bolso e estendi-lhe, quase a pedir desculpa, todas as moedas que tinha. Não era bem um conto, mas resolvia o problema por agora. ‘Muito obrigado, carago. ‘Tou mesmo fodido e mais vale um tipo ser sincero. Não lhe ia dizer que tenho família para alimentar. Não tenho. Mas ‘tou todo fodido, preciso mesmo de uma quarteira... obrigado doutor!... Se precisar de alguma coisa chame por mim, tou sempre por aqui. Pó, base, arranjo tudo... Há ali um tipo em Gaia que tem um pó, doutor!, é do melhorio. Se quiser chame por mim. Obrigado, doutor!’